Crença e lendas dos Assentados e Cultura de cura usando ervas

A lenda da cobra preta

De acordo com os contadores de história das comunidades do Assentamento Serrote, existe uma cobra preta chamada cobra preta de leite, que mama no seio das mulheres que estão amamentando, mas que, também já foram vistas mamando em cabras e vacas.

Diz-se que, durante a noite, a cobra desce pelo telhado das casas não forradas e procura o seio da mulher que está amamentando, coloca o rabo na boca da criança para ela não chorar e toma o lugar dela no peito na mãe.

No começo, a cobra é toda preta, mas a partir do momento que começa a mamar, vão aparecendo manchas brancas em todo corpo dela, cada mancha é uma mamada.

Com o tempo, depois de muitas mamadas, a cobra fica totalmente branca.

A vítima da cobra preta nunca consegue acordar na hora da mamada da cobra, pois fica como se estivesse hipnotizada. A vítima sempre se sente cansada, fraca e com sono.

No caso de matarem a cobra a pauladas, ao invés de sair sangue, sai leite.

Das vinte pessoas que conversei sobre a lenda da cobra preta, quatro haviam tido uma experiência pessoal com a cobra; seis conheceram pessoalmente alguma vítima; e as outras dez já tinham ouvido a estória de alguém. Dezenove pessoas acreditam nessa lenda e apenas uma já tinha ouvido a história, mas não acredita.

O uso de ervas medicinais

Todas as pessoas com as quais conversei, usam ou usaram plantas medicinais como prevenção ou cura de doenças. As plantas são usadas na forma de chás, lambedores ou meladores, cataplasmas, infusões e banhos. Geralmente os lambedores são usados para gripes com tosse e são feitos com várias plantas apropriadas, as quais são misturadas com água, açúcar e/ou mel e levados para ferver em fogo brando até chegar ao ponto de lambedor. As plantas mais usadas na preparação dos lambedores são: malvaísco (folha); corama (folha); hortelã (folha), jatobá (casca), abacaxi (polpa), cebola branca (cabeça), alho (cabeça), cumaru (casca) e babosa (folha).

Para fazer o lambedor não se usam necessariamente todas as plantas de uma vez, mas uma combinação de algumas delas, dependendo da disponibilidade da planta e da receita passada de geração para geração.

Outras plantas utilizadas e suas funções medicinais:

  • Traumas – Mastruz na forma de cataplasma.
  • Inflamações genitais femininas – Casca da Aroeira e Ameixa em banhos de assento.
  • Febre – Semente de gergelim, fervida, pisada e coada até parecer um leite.
  • Má digestão – Raspa do caule do marmeleiro na forma de chá.
  • Hipertensão arterial – Folha da colônia na forma de chá.
  • Reumatismo – Raiz do velame na forma de chá.

Por já fazer parte da cultura dessa comunidade o uso de plantas medicinais, para curar doenças, diminuir os sintomas causados por elas e também como prevenção, seria interessante à implantação de um projeto de “Farmácias vivas”.

Em pesquisa feita e em conversas informais com pessoas dessa comunidade, certificou-se que várias plantas ditas medicinais, mas que ainda não são validadas,ou seja, que ainda não tem os seus efeitos terapêuticos comprovados, são usadas de forma e dosagem erradas e de maneira abusiva.

Implantando um projeto de “Farmácias Vivas” nessa comunidade, poder-se-ia orientar e corrigir esses usuários de plantas medicinais a usá-las de maneira e dosagem corretas. Também orientaríamos a somente usar as plantas medicinais já validadas.

Nessa comunidade há um déficit no atendimento de saúde, com médicos aparecendo na comunidade de três em três meses, geralmente por meio expediente e com quantidade mínima de medicamentos para se distribuir. Geralmente quem cobre esse déficit na comunidade são os agentes de saúde e a rezadeira ou benzedeira.

Com essa deficiência na área da saúde, com o baixo poder aquisitivo dessa comunidade e com o médico e o medicamento em falta e estando às vezes a muitos quilômetros de distância, a presença de uma “Farmácia Viva” nessa comunidade seria de grande valia como alternativa terapêutica.

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