História de Pescador
Você me contou a história da sua infância.
Tão pobre de recursos,
mas tão rica em natureza.
Lembrou das noites na sua choupana de barro e teto de palha de coqueiro,
nas quais quando chovia não se podia dormir.
Falou da sua rede rasgada,
a qual a sua mãe chorava,
por não ter agulha e linha para costurar.
Noites de frio,
nas quais não tinha um lençol para se enrolar e nem roupas para trocar.
Ao lembrar desse dias idos você chorou.
Chorou lágrimas,
não sei se de saudade, dor ou alívio.
Ma também me contou,
da sua infância livre,
na qual corria livre pelas dunas e falésias,
vendo as marés desenterrarem mangues de tempos passados,
e encontrando relíquias dos seus antepassados,
enquanto brincava por essas terras,
Livre…
Contou também lendas e “causos” do seu povo.
Bolas de fogo que brincavam de assustar,
“visagens” que derrubavam frutas,
sereias e mães d’água no mar…
Suas verdades e a de seu povo.
Mas o que gostastes mesmo de contar,
foi história de pescador.
Que não deixa de ser a história da tua vida,
da vida que abraçastes,
do ofício que trouxe a ti,
teus descendentes
e tua comunidade até esse presente momento,
com muita dignidade.
Já passastes muita dor, medo e susto na tua vida,
mas o que mais dói, amedronta e assusta,
é nessa altura dessa vida,
ver sua comunidade descaracterizada,
sua identidade roubada,
suas terras invadidas e cercadas,
sem que nada possas fazer.
Só resta ter fé e esperar,
que Deus ou algum homem,
sinta empatia por essa dor,
por essa causa,
e te encha de esperança para acreditares que ainda tens força para lutar,
pelo o que é de direito teu..
E assim,
como as fontes de água que brotam nessas praias e desaguam no mar,
mas no percurso abrem caminho nas rochas, dunas e falésias,
espero que essas palavras que saem da sua boca e inspiram a minha alma,
siga caminho abrindo espaço e tocando como poesia os corações.
Inês Helena
Maio/2007
Publicado no blog em 16/07/2011.