A bagunça organizada
Concluo, por achar sagrada a desordem do meu espírito…
(Rimbaud).
A minha bagunça é organizada. Eu escrevo certo por linhas tortas, tal qual o meu criador. Aliás, filha de peixe, peixinha é…
Pessoas metódicas e que “escrevem certo por linhas retas” as quais percebem e observam o meu mundo emocional, podem achar que eu estou perdida em meio ao meu caos, mas eu não estou.
Foi com muita disciplina e observação, junto com uma necessidade extrema de sobrevivência em meio a turbilhões de sentimentos que me fragilizavam, que eu aprendi a conviver e gerenciar com maestria a minha dor, o meu caos, a minha bagunça, a minha desordem…
Aliás, a maioria das pessoas não sabe lidar com o que não está em ordem, com o que não faz sentido e muito menos acreditam que esse caos também é caminho e leva a algum lugar.
Li certa vez uma frase que dizia mais ou menos assim: “Em Alguns momentos da vida, desistir dos sonhos, é como deixar de “viver” e passar apenas a “existir”.
Para lidar com essa bagunça, e percebê-la organizada é preciso ter muito jogo de cintura e principalmente “viver” ou “existir” no limite. “Vive-se” ou “existe-se” de um modo que sempre se está com a vida em jogo. É muita adrenalina e consequentemente muito stress. Para minimizar esse efeitos existem os antidepressivos, ansiolíticos e os sonhos de amor. Esse último torna-se perigoso quando não age como atenuante, mas sim como agravante do stress. Amar e sonhar é uma faca de dois gumes.
Em alguns momentos da vida, deixar de sonhar passa a ser estratégico. Você pode até deixar de viver, mas garante que vai continuar existindo. É como se você viesse de carro por uma estrada em alta velocidade e o tanque de combustível estivesse quase vazio com o próximo posto a muitos quilômetros de distância. Aproveitando o impulso dado pela aceleração anterior, você coloca a marcha na “banguela” para poder continuar vencendo o percurso, sem precisar engatar uma nova marcha. Tudo isso para economizar a energia que quase não mais existe e garantir sua chegada sã e salva ao próximo posto.
Quando se chegar ao posto e completar o tanque de combustível, engata-se novamente as marchas. Assim também, quando se estiver quase morrendo ou deixando de existir, mas se chegar a um lugar ou situação que te trará forças, volta-se a sonhar. É tudo uma questão de estratégia de sobrevivência.
E assim se vai, percorrendo as estradas da vida, pois cada um vence os percursos e resolve os percalços que aparecem, como se pode ou como se sabe…
Só Deus sabe o que precisei modificar dentro de mim pra chegar, não digo nem “vivendo”, digo apenas “existindo”, até esse momento da minha vida.
Bagunça é bagunça, dor e dor, caos é caos e desordem é desordem. Como um veneno, para não ser fatal, esses elementos precisam estar numa dosagem ou presença inferior à dose letal.
Estou no limite da minha bagunça, no extremo da minha dor, agonizando em meio ao caos e quase perdendo o controle da minha desordem, ou seja, nada que possa ser um motivo de stress na minha vida pode continuar existindo, não nesse momento,… por isso eu concluo, por achar sagrada essa desordem do meu espírito….
Inês Helena
Maio/2007
Publicado no blog em 16/07/2011.