Vivência em Assentamento Rural Pelo Projeto Residência Agrária
Foi observado por 40 dias o cotidiano de camponeses assentados no Ceará. Trata-se da vivência no Assentamento Serrote proporcionada pela participação no Projeto Residência Agrária da UFC. O Programa Residência Agrária foi criado em 2004 com a intenção que estudantes universitários de cursos agrários pudessem conhecer a realidade rural. Esse programa é coordenado pelo Programa Nacional de Educação do Campo na Reforma Agrária (PRONERA) e é dividido em duas fases. Na primeira, os alunos do último ano de graduação se familiarizam com os assentados e os conscientizam da importância do desenvolvimento rural sustentável. Essa fase é também chamada de estágio de vivência. Já na segunda fase, o recém-graduado é capacitado para atuar em programas de Assistência Técnica e Extensão Rural, com a intenção de levar técnicas e conhecimentos de agricultura e meio ambiente aos pequenos agricultores, ou seja, o Programa Residência Agrária visa formar o profissional em agricultura familiar camponesa e educação do campo. Destaca-se pela sua abrangência acadêmica, com atividades efetivas de ensino, pesquisa e extensão, e impacto social repercutindo na realidade campesina brasileira.
Fazer parte do programa Residência Agrária faz com que o profissional tenha uma posição de se colocar no lugar do assentado, sentindo uma empatia com o modo de vida dele, fazendo com que, mais na frente, quando estivermos colocados em posições de decisão, possamos tomar alguma decisão em favor dos assentamentos, porque já estivemos inseridos na rotina dele, vivendo como se fosse um deles, até sofrendo, diferente de quem toma decisões sem sequer saber o que se passa no dia-a-dia dessas comunidades. Participar do Programa Residência Agrária torna o profissional mais sensível e atento às necessidades dos assentamentos rurais.
A vivência com as famílias assentadas foi o que teve de mais importante para mim no programa Residência Agrária. Sair literalmente da teoria e partir para a prática. Viver o dia-a-dia de um assentamento foi uma experiência gratificante, pois faz você vivenciar a vida deles, como se realmente fosse um deles. Isso cria uma cumplicidade, que futuramente como profissional, fará você ter posições, pontos de vista e defender opiniões que não poderiam ser formadas sem uma vivência em um assentamento rural.
Na primeira etapa, que se deu no período de 26 de fevereiro a 14 de abril de 2006, viveu-se o dia-a-dia dos assentados, acompanhou-se da hora em que eles acordavam até a hora em que eles se recolhiam, participando assim das lidas diárias, fosse em casa ou no campo, das suas tristezas e alegrias, do seu lazer, das suas conversas etc., em suma, viveu-se a vida deles. Através de um questionário, de conversas informais e convivência diária, coletaram-se as informações e fotos que aqui se encontram. Nessa primeira etapa, visitou-se todo o assentamento e suas sete comunidades, passando de dois a três dias em cada comunidade.
Na segunda etapa, que se deu no período de 1º a 9 de julho de 2006, e ficou-se apenas em Sousa, direcionou-se o trabalho para o grupo de teatro do assentamento Sousa e também para um questionário para obter informações de como os assentados de Sousa lidam com a questão do meio ambiente, afinal, a peça deles é baseada na questão ambiental. Também, procurou-se saber o que o assentamento em geral acha do incentivo ao teatro e se realmente havia interesse deles em que o teatro fosse incentivado, ou se havia algum outro projeto que poderia ser interessante deles.
Nas conversas, com os assentados, cada um contava a história do começo do assentamento. Foi-se então procurar no Plano de Desenvolvimento e Recuperação do Assentamento Serrote ou PDA/PRA, a identificação e o histórico do assentamento. Foi uma vivência enriquecedora para mim.